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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Nascimento da Medicina

A medicina como ciência

Afinal, quando foi que a medicina passou a existir de fato, como saber sistemático-científico? Sem fazer uma abordagem em largo, meu foco principal aqui é falar do surgimento da medicina Hipocrática. O que é, ou melhor, quem foi Hipócrates? Antes vamos falar um pouco de como era a visão médica na Grécia do período clássico (séculos V e IV a.C.), época na qual viveu Hipócrates e período de apogeu cultural grego.

É sabido por exemplo, que uma das primeiras figuras médicas, na Grécia, era a do próprio soldado. A história grega conta que todo guerreiro era hábil em extrair a ponta de uma flecha; em parar o fluxo sanguíneo, banhar o ferimento em água quente, aplicar um bálsamo curativo. O próprio Aquiles (o do calcanhar mesmo), segundo a tradição, teria sido iniciado nas artes médicas pelo centauro Quíron. Hoplita (guerreiro grego)

Não vou discorrer sobre mitologia aqui, mas os gregos consideravam Quíron como um grande conhecedor da medicina. A lenda diz que Apolo teve um filho com a ninfa Coronis. O namoro de Coronis com um mortal despertou a ira do deus, que então a matou e retirou dela o pequeno Esculápio a quem as artes médicas foram ensinadas pelo sábio centauro.

Asclépio é outro nome para Esculápio e o bastão com uma serpente, símbolo seu, é presente até hoje — a simbologia desse bastão é muito longa e antecede até mesmo aos gregos. A medicina primitiva então se baseava na “cura” mítica através de Esculápio. Os médicos na verdade eram sacerdotes e as pessoas peregrinavam até seus templos em culto à medicina divina.

As coisas começaram a mudar quando alguns iniciados passaram a abandonar esse fator divino, mas também porque alguns filósofos da época passaram a questionar tal fato. Com efeito, os filósofos da physis tiveram influência definitiva na ruptura religiosa. A exemplo, Anaxímenes, um milésio, observou o papel dos ventos na natureza e da repsiração na vida humana e reduziu a diversidade do mundo ao simples elemento do pneuma ou ar.

Empédocles, também filósofo, dividiu a substância na oposição de secura-umidade e calor-frio. Hipócrates, num modelo totalmente novo, atribui à doença uma condição física — porque até então ela era quase sempre vista como interferência divina. Para ele, o ambiente era o fator decisivo no qual o homem poderia estar em desarmonia consigo; o próprio estado mórbido.

É interessante observar suas reflexões a cerca da epilepsia, que na época era vista como “o mal sagrado”, pois era considerada efeito de causas não-naturais e, portanto, consequência divina:

Hipócrates

“A epilepsia é considerada “mal sagrado porque se apresenta como fenômeno estupefaciente e incompreensível. Na realidade, porém, há doenças não menos estupefacientes, como certas manifestações febris e o sonambulismo; portanto, a epilepsia não é diferente dessas outras doenças. Assim, ignorância foi a causa que levou a considerar a epilepsia como “mal sagrado”. Assim sendo, aqueles que pretendem curá-la com atos de magia são embusteiros e impostores. Ademais, tais pessoas estão em contradição consigo mesmas, pois pretendem curar com práticas humanas males julgados divinos, de modo que essas práticas, longe de serem expressões de religiosidade e devoção, são ímpias e atéias, porque pretenderiam exercer um poder sobre os deuses.”

Longe de ser ateu, Hipócrates demonstra um grande racionalismo nessa citação, vendo perfeitamente a importância do divino, ao mostrar com essas bases o absurdo que era misturar o divino com as causas das doenças. —“(…) não creio que o corpo do homem possa ser contaminado por um deus, o mais corruptível pelo mais sagrado”.

A teoria humoral

Todos os escritos sobre medicina dos séculos V e IV a.C. são atribuidos a Hipócrates; isso é o que chamam de Corpus Hippocratium. Sua medicina se tornou tão famosa que iria ainda ressoar por pelo menos quize séculos; e o seu juramento é feito por médicos até hoje. Entretanto, Hipócrates também defendeu a autonomia da ciência médica quanto a filosofia, pois dizia que a filosofia iria reabsorver a medicina. O que ele quer dizer com isso?  Que enquanto esta se preocupava com o homem em geral, aquela trata do homem concreto e da saúde física, relacionada com seu próprio ambiente; fazia-se necessária desvinculação de ambas, segundo ele.

A teoria humoral vem sendo atribuida a Políbio, genro de Hipócrates. Mesmo Hipócrates tendo mencionado coisas como a secura e a umidez e também “humores”, parece que ele não foi tão a fundo nessas definições sobre a qualificação e quantidade desses fatores. A teoria gira em torno da ideia de Empédocles, que foi traduzida na medicina. A natureza do corpo seria constituida de sangue, fleuma, bílis negra e bílis amarela. Esses quatro elementos estariam relacionados com os quatro elementos de Empédocles, com as quatro estações, e essas por sua vez com o envelhecimento do homem. Essa coisa de bílis negra, antes de ser esquecida, ainda vai dar muito o que falar lá nos românticos; que reacendem essa ideia com o seu famoso spleen.

Teoria Humoral

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